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Venda futura para não repetir o passado
29/01/2018

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Venda futura para não repetir o passado

Modalidade de comercialização começou a ganhar terreno no Estado para tentar estancar a redução da área, a menor da história

Na safra em que o Estado plantou a menor área de milho desde o início das séries históricas oficiais, na década de 1970, uma modalidade de comercialização começou a ganhar terreno. A tentativa é de exatamente estancar a redução do cultivo. Grandes interessadas na disponibilidade interna de seu principal insumo, as indústrias de carnes começam a partir para a aquisição antecipada do grão de produtores, cooperativas e cerealistas, para entrega futura.

O objetivo é garantir parte do suprimento antes da colheita e, ao mesmo tempo, dar previsibilidade ao produtor, com a segurança de que a safra terá mercado e preço travado que cubra os custos e assegure algum lucro. A intenção é manter o mercado mais equilibrado, evitando extremos como os vistos nos últimos dois anos - em que os preços baixos ajudaram as indústrias, mas desestimularam agricultores, e períodos em que as cotações mais favoráveis impulsionaram exportações e sufocaram o setor de aves e suínos.

Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) indicam que, na safra 2017/2018, foram plantados no Rio Grande do Sul 728 mil hectares de milho, sexta retração consecutiva, 9,5% abaixo do ciclo anterior e metade de 12 anos atrás (veja na página ao lado). Com extensão cultivada menor e problemas climáticos, a produção para o Estado é calculada em 5,2 milhões de toneladas, 13% inferior à obtida no ano passado. O consumo interno é estimado em 5,5 milhões de toneladas.

O presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), Nestor Freiberger, diz que, para a indústria, caiu de vez a ficha de que era preciso se aproximar dos produtores a partir da crise de abastecimento de 2016, quando o preço da saca de milho no Estado superou a casa dos R$ 50. Um ano atrás, o preço médio estava em R$ 32 e, agora, em torno de R$ 27, conforme a Emater (veja na página ao lado). Segundo Freiberger, a compra antecipada começou de forma incipiente na safra anterior, mas agora já chegaria a um volume entre 20% e 30% da necessidade da indústria de carnes. Algo em torno de 1,5 milhão de toneladas.

- O erro de 2016 nos serviu de lição, para saber como não fazer. Há visão de ambas as partes de que precisamos parar com essa briga de gato e rato, sentar na mesa e pensar mais no longo prazo, para que não tenhamos essas oscilações bruscas para cima e para baixo - diz Freiberger.

O presidente da Federação das Cooperativas Agropecuárias do Estado (Fecoagro), Paulo Pires, também avalia que a negociação futura pode ser um instrumento importante para estancar a sangria da queda da área de milho no Rio Grande do Sul. Mais conservador, Pires acredita que o volume vendido antecipadamente seria inferior a 1 milhões de toneladas, mas confirma o avanço da modalidade, que tem o mérito de diminuir incertezas para produtores e indústria.

- Sempre pregamos isso. É o caminho - afirma Pires, que cita a disponibilidade de crédito para as empresas consumidoras comprarem milho, gerando liquidez no mercado, como alternativa complementar.

COMPRA ANTECIPADA AINDA TEM BARREIRAS A SUPERAR

O presidente da Associação dos Produtores de Milho do Rio Grande do Sul (Apromilho-RS), Ricardo Meneghetti, também entende que a comercialização futura tem o potencial de deter a queda de área no Estado, mas aponta barreiras a serem vencidas. Uma delas é a cultura do produtor e o direcionamento do mecanismo. Enquanto os grandes conhecem mais a ferramenta, médios e pequenos são um pouco arredios. Além disso, agricultores com maior escala têm condições de irrigar a lavoura, o que aumenta a segurança de boa safra, enquanto os demais estão sujeitos ao humor do tempo. O milho, lembra o dirigente, é mais sensível à falta de umidade do que a soja. Isso gera receio de multas e outras consequências caso não consigam entregar o contratado, ao mesmo tempo em que o produtor não dispõe de seguro que garanta a renda.

- São vários medos que os produtores têm, fazendo com que eles acreditem mais na soja que, basta levantar o dedo e em 72 horas a produção é vendida - pondera.

A aproximação de produtores e consumidores é ponto-chave para a reação da cultura no Estado, entende Valdomiro Hass, coordenador da Câmara Setorial do Milho, grupo que também tem o tema como uma das prioridades. Sem solucionar esta volatilidade dos preços, vão restar apenas os que cultivam por questão agronômica (rotação de cultura com a soja), quem obtém altas produtividades com a irrigação, adeptos da diversificação e quem planta milho para silagem. Enquanto isso, a indústria de carnes continuará tendo campo fértil para crescer apenas fora do Rio Grande do Sul.

Fonte: Caio Cigana - Campo e Lavoura - Jornal Zero Hora