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Quebra na safra de milho preocupa criadores de aves e suínos no RS
04/02/2023

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Quebra na safra de milho preocupa criadores de aves e suínos no RS

Segmento não acredita em escassez do cereal, mas problemas climáticos devem apertar as margens ainda mais

A cadeia de produção de proteínas animais no Rio Grande do Sul acredita quenão terá problemas com o abastecimento de milho neste primeiro semestre, a despeito da seca no Estado, que deve fazer com que a colheita da primeira safra seja menor do que o inicialmente previsto. Por outro lado, como acontece há algum tempo, as margens devem seguir curtas, já que o preço do cereal, o principal insumo do segmento, deverá seguir elevado.

“A redução da oferta de milho não vai significar queda dos abates, mas ela mantémessa crise do setor tanto para a indústria quanto para o produtor, que trabalham novermelho desde o ano passado", afirma Valdecir Folador, presidente da Associaçãodos Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs). "O que pode acontecer éfaltar dinheiro para comprar o milho, mas faltar o insumo, não”.

De acordo com a Embrapa Suínos e Aves, o custo de produção do suíno vivo subiu 15,3% em 2022, para R$ 8,07 por quilo - o aumento para esse patamar, recorde, foi puxado especialmente pelos gastos com nutrição. Por ano, a suinocultura no Estado consome 2,3 milhões de toneladas de milho, segundo Folador.

O presidente da Acsurs diz que a oferta está garantida no curto prazo em virtude do bom andamento da colheita no Estado, que chegou a 35% da área até a última quinta-feira (2/2). “Até a segunda quinzena de fevereiro devemos ter uma oferta abundante daquilo que a estiagem não levou. Mas até a chegada da safrinha do Centro-Oeste, quem precisa alimentar o rebanho tem que se antecipar, para não ter que buscar em locais mais distantes e acabar pagando mais”, diz.

Mesmo com a proximidade do pico da colheita, o dirigente não vê espaço para uma redução acentuada dos preços do cereal. “Desde o segundo semestre de 2020, os preços do milho mudaram de patamar, saindo da casa de R$ 45 a saca para algo em torno de R$ 90, e estacionaram nesse valor. Nos últimos anos, temos esse problema de custos versus preços de venda, que não cobriram as despesas em virtude do gasto elevado com a alimentação do rebanho”, ressalta.

Corte nas projeções
Em janeiro, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou colheita de 4,6 milhões de toneladas de milho no Rio Grande do Sul nesta safra de verão. O volume é 61,6% maior que o do ciclo passado, quando a estiagem no Estado foi bem mais severa que a deste ano, mas representa uma queda expressiva em relação às primeiras projeções - em agosto, a Emater gaúcha previu colheita de 6,1 milhões de toneladas.

A diminuição das projeções de colheita de milho no Rio Grande do Sul afeta também a indústria de aves de corte no Estado, que demanda cerca de 3 milhões de toneladas por ano. Os custos da atividade subiram 6,19% no ano passado, segundo a Embrapa.

Para tentar amenizar o impacto com as despesas com ração, entidades buscam alternativas para aumentar a oferta local de milho. “Desde o início do ano passado,em parceria com a iniciativa privada, investimos em programas para aumentar a produção de cereais de inverno para uso na ração animal, como trigo e triticale.Também está em andamento no Estado um projeto para plantio de milho irrigado”,conta José Eduardo dos Santos, presidente executivo da Organização Avícola do Rio Grande do Sul (Asgav).

Ainda que a estiagem deste ano preocupe, Santos diz que o cenário de seca não é tão grave quanto o do ano passado. Com isso, as importações de milho feitas pela indústria - Argentina e Paraguai são os maiores fornecedores externos - devem diminuir para cerca de 2 milhões de toneladas. O quadro pode mudar se as perdas causadas pela seca se agravarem no Estado.

Fonte: Valor Econômico
Créditos da Imagem: Divulgação