As novidades nos metem medo e estamos sempre prontos a rechaçá-las, mesmo que saibamos que o mundo se move e a vida é dinâmica. Há, talvez, o medo do fracasso e ele é real, mas também é real o desejo de vencer desafios, e parece ter sido essa a mola propulsora na realização da 1ª Conbrasul, a Conferência Brasil Sul da Indústria e Produção de Ovos, evento que aconteceu entre os dias 11 e 14 de junho na cidade gaúcha de Gramado, em deliciosa e aconchegante pré-estreia do inverno brasileiro de 2017.

No primeiro dia, em meio à expectativa dos participantes, o evento promovido pela Asgav, a Associação Gaúcha de Avicultura, já dava ares de êxito. Havia um quê de certeza no ar de que naquele enorme salão de eventos do Centro de Convenções do Hotel Wish Serrano o sucesso já sentara na primeira fila. Naturalmente que a estreia dá sempre aquele frio na barriga e os organizadores da 1ª Conbrasul o sentiram, confessaram depois, ainda que a confirmação de presença estivesse dentro da expectativa dos diretores e da equipe da Asgav que se dedicaram a realizar o primeiro evento da postura brasileira nos moldes das conferências da IEC, a International Egg Comission.

A entidade internacional que conduz pesquisas e divulga o conhecimento sobre o ovo no mundo foi a grande inspiração para o executivo José Eduardo dos Santos, diretor da Associação Gaúcha de Avicultura, coordenador do consagrado Projetos Ovos RS e embaixador do IEC no Brasil. Eduardo foi o mentor da ideia com a qual contagiou todos os demais membros da diretoria da entidade, pondo à prova a capacidade dos avicultores gaúchos e sua associação de promover um evento que debateria temas importantes para a postura brasileira, sob o foco da industrialização e marketing do ovo. A intenção foi demarcar um novo espaço na agenda de eventos relevantes do setor no Brasil.

Foi exatamente isso que aconteceu.

A 1ª Conbrasul surpreendeu positivamente a todos. Aos cerca de 200 participantes, oriundos dos principais estados produtores de ovos do Brasil, aos representantes de entidades avícolas, avicultores, executivos e técnicos de indústrias de insumos para o setor, parceiros e profissionais que compareceram durante três dias nas 25 palestras proferidas durante a conferência, um espaço em que muita informação foi compartilhada e as diversas áreas que estudam, pesquisam, produzem e comercializam o ovo puderam se confraternizar.

CARDÁPIO BRASILEIRO E INTERNACIONAL

Cerca de 15 temas diferentes foram abordados em 25 palestras de convidados nacionais e internacionais

Cerca de 15 temas diferentes levaram ao palco da 1ª Conbrasul representantes da indústria, da produção de ovos, da academia, dos órgãos oficiais, de entidades representativas dos avicultores, tanto do Brasil quanto do exterior. O marketing do ovo foi a grande estrela do evento, ocupando praticamente um dia inteiro de apresentações – o dia 13 de junho. No dia anterior, o tema já havia sido tratado na palestra de Andrés Valencia, presidente da Fenavi, a Federação Nacional de Avicultura da Colômbia. A entidade tem um aclamado projeto de promoção do ovo e o palestrante demonstrou que o marketing, funciona, sim, e elevou o consumo de ovos entre os colombianos com peças e promoções inteligentes, alicerçadas nos recursos do bem engendrado Fundo Nacional Avícola.

Em nível internacional, também pudemos conhecer com mais detalhes os passos dados pela IEC, a International Egg Comission, entidade global que tem na difusão do ovo e suas qualidades nutricionais o foco de um trabalho que, ano a ano, ganha destaque no mundo. São 80 países membros da IEC – o Brasil inclusive -, entidade que tem um latino-americano como presidente pela primeira vez, o avicultor mexicano Cesar de Anda. Ele também falou sobre esse trabalho durante palestra no dia 13, o dia dedicado ao marketing do ovo.

Assim como Cesar de Anda, o executivo Fernando Cisneros trouxe para nós, brasileiros, o panorama mais recente do ovo no mundo. Cisneros é outro mexicano a se destacar no cenário internacional da avicultura de postura. Residindo na Suíça e comandando o marketing global na linha de carotenoides e poedeiras da multinacional DSM, ele abriu o cenário mundial em sua palestra para nos posicionar sobre a qualidade do ovo, o mercado consumidor e as tendências para logo mais. Tanto Cisneros quanto Cesar de Anda deixaram como mensagem o alerta de que o consumidor está mudando muito rapidamente e não há retorno para o que está sendo estabelecido na sua preferência. No final das contas, quem manda é mesmo o consumidor.

Foi para discutir novas demandas, oportunidades e riscos na indústria e produção de ovos que 200 profissionais dos mais diversos ângulos da avicultura de postura se encontraram em Gramado, nessa conferência inédita. Quem se abriu às novidades saiu de lá certo de que não basta produzir ovos; é preciso estar sintonizado com as tendências que o mercado propõe para o segmento.

O DIA A DIA E OS TEMAS POLÊMICOS

As sessões de conferência abriram para debate com temas do cotidiano e polêmicos na atualidade

As entidades de avicultores que têm projetos de promoção do ovo - colhendo frutos hoje de algo que, no passado, era desacreditado – deram uma importante contribuição à 1ª Conbrasul, mostrando exemplos de ações regionais de sucesso no marketing do ovo. Foram elas a Aceav (CE), a AVES (ES), a Asgav (RS), a APA (SP) e o Instituto Ovos Brasil, que apresentaram seus projetos na Conbrasul, revelando os números do aumento de consumo do produto e mostraram que há, sim, que se dedicar a produzir ovos como quer o consumidor, e que, antes de mais nada, há que haver um incentivo, praticamente uma didática para ensinar o brasileiro a comer ovos, a gostar de comer ovos, a comer ovos com orgulho, como já acontece com a carne vermelha e o frango.

Mesmo o avicultor precisa ser estimulado a refletir que é responsável por produzir um alimento especial, altamente proteico, rico em aminoácidos essenciais e vitaminas. O orgulho de produzir um alimento tão precioso também precisa ser incentivado. Nesse sentido, a 1ª Conbrasul vem se somar a eventos tradicionais que já trabalham o conceito, como o Congresso da APA, em São Paulo; o Concurso de Qualidade de Ovos de Bastos; o Avicultor, em Minas Gerais; o Simpósio da AGA, em Goiás; a Feira de Avicultura de São Bento do Uma, em Pernambuco; a FAVESU, no Espírito Santo; o SIAVS, na capital paulista; a Jornada Técnica e a Festa do Ovo, em Bastos (SP); a Avesui, em Florianópolis; o Congresso de Coturnicultura da UFLA, em Minas Gerais; o Avisulat, em Porto Alegre, e tantos outros que trabalham para o suporte técnico e de sustentação do conhecimento avícola.

Avicultores e profissoinais de diversos estados brasileiros se confraternizaram em Gramado (RS)

Os momentos de confraternizaram marcaram também a agenda social da Conbrasul 2017

A 1ª Conbrasul não se esquivou também de temas polêmicos. Estava lá o bem-estar animal para ser debatido, proposto em uma palestra com a zootecnista Fernanda Vieira, gerente de programas e políticas corporativas da HSI (Humane Society International) Brasil, ONG que defende o bem-estar animal e a produção de ovos com aves fora da gaiola. Segura de sua defesa, Fernanda foi questionada pela plateia sobre o assunto. O respeitado professor Benedito Lemos, de Minas Gerais, inquiriu a zootecnista, querendo saber o que fazer com tudo que foi feito até hoje para colocar de pé a avicultura de postura no modelo industrial. O tema renderá muito ainda, a julgar pelas mudanças que o mundo do ovo vive.

STATUS SANITÁRIO, O MAIOR PATRIMÔNIO

Masaio Mizuno Ishizuka e Paulo Lourenço marcaram o dia 14 com o tema sanidade

O conhecimento testado e aprovado na sanidade esteve presente no compartilhamento de ideias promovido no último dia da 1ª Conbrasul. E o destaque foi a sessão de conferência em sanidade, que contou com a presença dos ilustres professores doutores Paulo Lourenço (da Universidade Federal de Uberlândia – MG) e Masaio Mizuno Ishizuka (professora aposentada da USP-SP e coordenadora do Comitê de Sanidade Avícola do Estado de São Paulo), as vozes importantes da sanidade avícola brasileira a destacarem o tesouro que o Brasil possui e que o mantém em alta no cenário mundial.

Respeitadíssimos na avicultura brasileira, Lourenço e Masaio marcaram o último dia da Conbrasul com a certeza de que a segurança sanitária é o patrimônio que a avicultura de postura brasileira não pode desdenhar jamais, sob pena de perder tudo que conquistou com tanto suor nos últimos 50 anos. E, para isso, confirmaram que não precisa nada de novo, mas tão somente pôr em prática nas granjas as medidas simples de biosseguridade de que tanto falam os especialistas. “Desculpe decepcioná-los, mas não trouxe nada de novo”, disse Paulo Lourenço. “É preciso empregar o que está aí, as medidas de biossegurança. É saber o que fazer e fazer. Se todo o conhecimento adquirido não for para dentro das suas empresas e vocês não tentarem transmitir isso, esse conhecimento ficará só para vocês. Nós estamos aqui em 200 pessoas; lá fora, há milhares precisando ser treinadas e tomar conhecimento disso. As pequenas ações são revolucionárias em saúde animal; as grandes mudanças que vão acontecer não estão nas coisas estratosféricas. Me desculpem que eu não trouxe nada de novo. Não existe nada de novo que não seja o velho que a gente já conhece”, enfatizou Paulo Lourenço.

O médico veterinário destacou que ações simples - como lavar as mãos e trocar os calçados antes de entrar num aviário – estão entre as melhores atitudes que todos podem ter para manter a sanidade no plantel brasileiro. E questiona: “O que isso custa? Custa o comprometimento com a avicultura, tão somente o comprometimento.”

Dra. Masaio Mizuno Ishizuka deu o exemplo das ações empreendidas pela comunidade avícola de Bastos, no Oeste Paulista. A Capital do Ovo, maior produtora do Brasil, empreende – desde 2015 – um programa de biosseguridade específico para a região, com estudos e métodos sendo postos em prática sob a coordenação do Sindicato Rural de Bastos para prevenção da influenza aviária. Como seu colega Paulo Lourenço, Masaio destacou que “tudo é difícil de ser empreendido no começo, mas tudo é possível de ser resolvido”, referindo-se à importância de se agarrar ao desafio da biosseguridade e mantê-la, ad infinitum. “Basta que a gente tenha conhecimento, princípios e fundamentos bem alicerçados na mente dos RTs, veterinários e do gerenciamento para que se possa superar os desafios.”

OS APOIOS FUNDAMENTAIS

Membros da comissão organizadora comemoram o sucesso com os convidados, em coquetel

Visivelmente satisfeitos com os resultados da 1ª Conbrasul, diretores da Asgav e coordenadores do evento agradeceram a todos que tornaram possível a realização dessa primeira conferência e destacaram o especial apoio recebido dos patrocinadores Ovo de Ouro e Ovo de Bronze, a DSM e a Boehringer Ingelheim, respectivamente, além do apoio especial das empresas All Tech, Artabas, Auster, Big Dutchman, Biosyn, Blystersul, BRDE, Eurofins, Fasa, Fundesa, Hendrix, Hy Line do Brasil, Lohmann do Brasil, Mercoaves, NPE, Rio Bonito Embalagens, Sicredi, Vencomatic e Zoetis.

Em animado coquetel promovido no dia 13, quando os realizadores falaram aos presentes em franca satisfação pelos resultados positivos, Daniel Bampi, avicultor e um dos membros do grupo realizador, lembrou os primeiros contatos no local do evento. Confessou o temor de não ver preenchido todo o auditório do centro de convenções do Wish Serrano, em Gramado. “Na primeira visita que fizemos, me veio logo o pensamento: como vamos preencher esse espaço? Hoje, sabemos que é possível.”

José Eduardo dos Santos recepciona os convidados, em coquetel no dia 11, ao lado dos parceiros
de organização: Ricardo Santin (Instituto Ovos Brasil), Cesar de Anda (International Egg
Comission), Nestor Freiberger (Asgav) e Francisco Turra (Associação Brasileira de Proteína Animal)

O apoio das entidades maiores, como a ABPA e o Instituto Ovos Brasil, foram determinantes para a concretização da Conferência, segundo José Eduardo dos Santos, o coordenador. “Quando apresentei a ideia, o Francisco Turra e o Ricardo Santin [presidente e vice da ABPA] disseram: Eduardo, realmente é uma ousadia, mas nós temos total confiança e vamos te apoiar”. E os patrocinadores, que receberam justa homenagem durante o jantar realizado no dia 12, mostraram-se satisfeitos com os resultados.

Os representantes da DSM, patrocinador Ovo de Ouro da 1a. Conbrasul:
José Francisco Miranda, Fernando Cisneros, Alexandre Sechinato e Otávio Rech

“Para a DSM, é uma oportunidade de estar junto aos clientes e reforçar a mensagem de que o mercado de postura comercial é muito importante, reafirma a parceria da empresa junto às associações, promove o consumo e o mercado e faz um network com profissionais, produtores e empresas do setor com o objetivo de trocar experiências que possam ajudar no crescimento da cadeia de produção”, afirmou Alexandre Sechinato, gerente regional de produtos ANH América Latina – Nutrição Mineral da DSM.

Representantes da Boehringer Ingelheim/Bionutri, patrocinadora Ovo de Bronze:
Douglas Bonamigo, Juliana Calveyra, Erich Carvalho e Fábio Flores

Também demonstrou a satisfação de ser parceira dessa empreitada a representante da Boehringer Ingelheim, patrocinadora Ovo de Bronze. “Ficamos muito animados em poder nos reunir com profissionais e produtores não só do Sul, mas de todo o país, para levar informações técnicas de qualidade e reforçar ainda mais a nossa parceria com um setor avícola cada vez mais produtivo”, salientou Juliana Calveyra, gerente de produtos de Aves da Boehringer Ingelheim Saúde Animal.

Nos apoios especiais as empresas All Tech, Artabas, Auster, Big Dutchman, Biosyn, Blystersul,
BRDE, Eurofins, Fasa, Fundesa, Hendrix, Hy Line do Brasil, Lohmann do Brasil, Mercoaves, NPE,
Rio Bonito Embalagens, Sicredi, Vencomatic e Zoetis

MISSÃO CUMPRIDA, DESAFIOS SUPERADOS

À revista e site A Hora do Ovo o executivo José Eduardo dos Santos, artífice dessa ideia, destacou que o projeto inicial – e que foi alcançado – era fazer a integração com outros estados produtores de ovos e compartilhar conhecimento e confraternização com líderes do setor em nível mundial. “A 1ª Conbrasul teve esse objetivo de congregar, compartilhar e trabalhar assuntos de relevância para o setor, com líderes e pessoas com poder de decisão, para que todos pudessem focar os desafios do setor, que são as transformações na produção, no bem-estar animal e na biosseguridade, entre outras áreas. A cada etapa concluída, tínhamos a certeza de estarmos acertando o propósito desse evento e ouvindo, de cada um, sugestões para a próxima edição.”

“Para nós fica a satisfação de ter cumprido nosso dever”, resumiu Eduardo, já antecipando que da realização e dos contatos da 1ª Conbrasul brotou também a semente de um evento internacional da IEC aqui no Brasil. Mas essa é outra história. Por ora, fica a lição especial dessa primeira conferência sul brasileira de postura: os desafios estão aí para serem enfrentados.

Sim, é real o desejo de vencer desafios e são eles que nos movem, tendo o medo como conselheiro, na dose certa. Foi essa a mola propulsora da 1ª Conbrasul, a Conferência Brasil Sul da Indústria e Produção de Ovos, evento que abriu uma nova frente de atualização e debate no Sul do Brasil. A satisfação e os resultados positivos demonstrados pelo evento inédito nos fizeram lembrar a máxima atribuída a Jean Cocteau, artista francês que, para designar a ousadia de quem realiza sem medo dos desafios, cunhou a frase: Não sabendo que era impossível, foi lá e fez.

Equipe de trabalho que pôs mãos à obra nos bastidores para que tudo acontecesse
com sucesso nas áreas de apoio, administração, comunicação, imagem e logística:
Raquel Melchior, Mayara Stortti, Dinarci Borges, Mayara Reis, Eduardo Santos,
Roberto Benetti, Luciana Brambilla, Cristiana Azevedo e Patricia Khamis

A 2ª Conbrasul será em 2019, entre os dias 16 e 19 de junho, em Gramado, na charmosa serra do Rio Grande do Sul.

Confira, no Canal do Ovo, a entrevista do executivo José Eduardo dos Santos, coordenador da 1a. Conbrasul: www.canaldoovo.com.br

Saiba mais sobre a 1ª Conbrasul nos links:

Conbrasul inaugura modo conferência com sucesso em Gramado

O marketing do ovo foi a estrela do dia 13 na Conbrasul

Revista A Hora do Ovo é homenageada pela Asgav na Conbrasul 2017

Fonte: Teresa Godoy é jornalista e editora do site A Hora do Ovo