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Indústria de proteína animal pede ação urgente para evitar colapso
11/05/2023

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Indústria de proteína animal pede ação urgente para evitar colapso

Custos elevados, juros exorbitantes, logística difícil, tributos em excesso, crise global e queda de poder aquisitivo. Esse mix de fatores compõe, junto a outros itens, um cenário que vem estrangulando a cadeia de proteína animal do Rio Grande do Sul. O alerta foi dado nesta quarta-feira (10) pelos presidentes executivos da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, e da Dália Alimentos, Carlos Alberto Freitas, durante a reunião-almoço Tá Na Mesa, da Federasul, em Porto Alegre.

No evento, eles procuraram mostrar que embora o setor tenha alta taxa de participação na economia do Estado, as dificuldades enfrentadas podem ser letais para as agroindústrias, com efeito cascata sobre outros segmentos e a sociedade. É o que Freitas batizou como perigo de “desagroindustrialização”.

Geograficamente distante dos demais centros fornecedores de matéria-prima e consumidores de produtos industrializados e dependente da importação de milho de outras unidades da Federação e até de outros países, o Rio Grande do Sul vem pagando um preço alto para manter a atividade. “O milho, responsável por 70% da composição da ração de aves e suínos, chega a preços mais altos do que pagam as empresas de outros estados. E na hora de transportar a produção vendida a clientes das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste, por exemplo, nossa competitividade cai ainda mais”, disse o dirigente da Dália.

As dificuldades começaram, conforme Freitas, em 2007, quando Santa Catarina conquistou status de área livre de febre aftosa sem vacinação, enquanto o Rio Grande do Sul segue até hoje sem esse reconhecimento perante importantes mercados. “Produzíamos 100 mil toneladas de carne suína mais do que os catarinenses. Hoje, eles processam 300 mil toneladas mais do que nós. Nesse intervalo, procuramos dialogar com o governo estadual em busca de apoio, mas o que ocorreu foi o aumento do ICMS, em 2015, elevando nossos custos durante sete anos. Atualmente, porém, o Executivo nos impõe o Fator de Ajuste de Fruição (FAF), que vem reduzindo o retorno de créditos presumidos. Foram 5% em 2022, são 10% neste ano e serão 15% em 2024”, reclamou.

O FAF é um percentual gradativo aplicado sobre os créditos presumidos concedidos pelo RS nas compras de insumos que os setores da economia gaúcha tiverem de fazer em outras unidades da federação. Além de pedir a exclusão do setor de proteína animal do FAF, Freitas apontou reiteradamente a necessidade de sensibilização dos agentes financeiros para que não abandonem as empresas no momento de maior dificuldade. É que a pandemia de Covid-19 causou enormes danos a partir de 2021. Os insumos subiram até 100%, a Taxa Básica Selic aumentou 400%, mas a indústria conseguiu repassar apenas 25% ao consumidor.

“No momento em que a margem de lucro cai ou mesmo se torna negativa, aumenta a necessidade de capital de giro. Mas com os balanços financeiros no vermelho, os bancos se afastam. Ou oferecem recursos a custos absurdos. Sozinhos, não daremos conta de reverter esse quadro. E dele surgirá o empobrecimento das regiões onde a base da economia são o leitem o frango e o suíno”, alertou o representante da Dália.

Programa Duas Safras e crédito federal são esperança

O problema é grande. No ano passado, o RS precisou buscar fora de seus limites mais de 3,5 milhões de toneladas do grão. A saca de 60 quilos passou de R$ 46 para R$ 110,00 – atualmente está na casa dos R$ 90,00. Por outro lado, o setor investiu mais de R$ 100 milhões em medidas sanitárias e estruturas de segurança em função da Covid. Trabalhadores foram divididos em turnos, para manter o distanciamento social. O ritmo de produção caiu pela metade. E a economia gaúcha, por todos os fatores geográficos que elevam os custos, sentiu o golpe.

“Por falta de competitividade, atualmente, 57% da carne de frango consumida no RS tem origem em outros Estados. Aqui é o paraíso comercial para as agroindústrias de outras unidades. Mas temos esperança em ações como o Programa Duas Safras, que pode alavancar a produção de milho no RS, e nas novas tecnologias, como o cultivo do cereal na várzea, com a técnica de sulco-camalhão. Igualmente, esperamos incentivos à produção de cereais de inverno, assim como a sensibilização do governo federal para o anúncio de um Plano-Safra 2023-2024 mais robusto”, projetou José Eduardo dos Santos.

O dirigente da Asgav também apontou ações que podem ajudar a evitar maior retrocesso, perda de competitividade e diminuição do número de indústrias e cooperativas. Ele pediu medidas de isonomia ou equilíbrio competitivo em relação aos demais estados da União, apoio no processo de habilitação de indústrias e cooperativas que buscam exportar para a China e para a inclusão do Rio Grande do Sul no traçado da ferrovia Ferroeste, que deverá facilitar a logística entre Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina. “Medidas inteligentes e urgentes hoje, resultados satisfatórios amanhã”, destacou.

Esses e outros aspectos da crise do setor estão contemplados nas discussões do Grupo de Trabalho criado pela Federasul, que está preocupada com as perspectivas para a cadeia da proteína animal. Reuniões também já vêm acontecendo entre líderes do setor e o governo do Estado. A expectativa é por encontrar formas de dar mais visibilidade a esse segmento junto aos mercados internacionais, valorizando a sanidade, e sensibilizar o governo federal a intensificar os esforços para a habilitação de empresas para exportação à China, especialmente, além da busca de recursos com taxas compatíveis com o momento do setor.

Também palestrante no Tá Na Mesa, o secretário da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação do Estado, Giovani Feltes, ponderou que a questão fiscal é delicada, pois é por meio da adoção de medidas de austeridade que o Estado poderá recuperar condições de investimento no futuro.

“Não é apenas uma questão de vontade política. Chega um ponto em que ‘acaba o limite do cartão de crédito’. Por isso buscamos equilíbrio e responsabilidade fiscal. Para criar condições estruturais de retomada. Talvez outros Estados tenham feito essa lição de casa antes e melhor do que nós. Queremos, e creio que estamos conseguindo, fazer com que a sociedade se aproprie da realidade financeira do RS. Assim poderemos ter recursos para investimentos. Já fazemos, em volumes crescentes. Ainda é pouco, mas estamos fazendo”, analisou.

Fonte: Jornal do Comércio
Créditos da Imagem: EVANDRO OLIVEIRA/JC