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Exportações do agronegócio gaúcho registram queda de 23,3% no 1° trimestre
08/05/2020
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Em meio a um cenário externo de incertezas por conta do novo coronavírus (COVID-19), as exportações do agronegócio gaúcho somaram US$ 1,8 bilhão no primeiro trimestre de 2020, uma queda de 23,3% na comparação com o mesmo período do ano anterior. No período, as vendas nos setores de produtos florestais (US$ 214,7 milhões; -68,5%) e fumo (US$ 281,8 milhões; -39,4%) registraram as maiores baixas.
Também registrou queda nas exportações o setor de cereais, farinhas e preparações (US$ 179,6 milhões; -33,5%), enquanto o destaque positivo do período ficou para a alta nas vendas de carnes (US$ 455,6 milhões; +60,6%) e do complexo soja (US$ 350,1 milhões; +17,7%). Em termos absolutos, a redução do valor exportado foi de US$ 547,5 milhões.
Os dados fazem parte do boletim Indicadores do Agronegócio do RS, divulgado nesta quarta-feira (06) pela Secretaria de Planejamento, Orçamento e Gestão (Seplag). Elaborado pelos analistas do Departamento de Economia e Estatística (DEE) Sergio Leusin Jr e Rodrigo Feix, o documento referente ao primeiro trimestre de 2020 não conta, diferentemente das versões anteriores, com informações sobre o emprego formal no agronegócio gaúcho. Os dados oficiais do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), produzidos pelo Ministério da Economia e que servem de base para este estudo, ainda não foram divulgados pelo governo federal, impossibilitando a análise.
"No Boletim anterior tínhamos alertado para a alta expressiva das vendas de celulose do Rio Grande do Sul para a China em 2019, que chegou a 60% em valor. Já era pouco provável a manutenção deste patamar elevado em um cenário sem restrições produtivas e logísticas. Com o coronavírus, este movimento de recuo pode ter sido potencializado", destaca Sergio Leusin Jr.
Produtos e destinos
Entre os principais produtos por setor do agronegócio, nos produtos florestais a celulose registrou forte redução nas vendas (-76,3%). No setor de fumo, a China interrompeu por completo as compras, o que levou à redução nas vendas de fumo não manufaturado (-41,1%). Nos cereais, a redução nos embarques de trigo (-55,6%) foi o principal responsável pelo impacto negativo dos números.
No ritmo contrário, as vendas de carne suína do Rio Grande do Sul atingiram o maior valor para um primeiro trimestre (US$ 128,5 milhões; +78,6%) desde o início da série histórica, em 2007. De acordo com o boletim, a alta ainda reflete os efeitos da Peste Suína Africana, que aumentou a demanda chinesa pela proteína animal. A carne de frango (+82,1%) também foi outro dos destaques do setor.
Quanto à soja, cuja colheita se inicia no segundo trimestre, os números dos primeiros três meses do ano ainda não refletem os impactos da estiagem na produção gaúcha. O crescimento nas vendas no período que antecede a colheita no Rio Grande do Sul pode ser explicado, em grande parte, pela venda dos estoques de passagem.
Em relação aos principais destinos das exportações do agronegócio gaúcho, a China segue na liderança dos maiores parceiros, responsável por 23,6% do valor total comercializado. Ainda assim, o gigante asiático registrou uma queda de US$ 128,0 milhões (-23,1%) nas compras do Rio Grande do Sul. União Europeia (15,7%), Estados Unidos (6%), Coreia do Sul (4,8%) e Arábia Saudita (4,5%) seguem o ranking de participação nas vendas. O bloco europeu foi o responsável pela maior queda percentual nas vendas no primeiro trimestre (-33,5%).
Estiagem
Com um impacto no rendimento da produção que chega a 29,3% na soja, 19,9% na lavoura de fumo e 18,6% no milho, a estiagem que castiga o Estado também vai restringir a oferta dos produtos para exportação. Com uma perda estimada inicialmente em 5,1 milhões de toneladas, a produção de soja tende a sofrer uma quebra ainda maior em função da irregularidade e da falta de chuvas no final de abril, período não avaliado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na estimativa mais recente.
Coronavírus (COVID-19)
De acordo com o boletim, alguns elementos já permitem análises sobre o impacto da COVID-19 para o agronegócio gaúcho. Ainda que tenha se mantido com uma participação estável no ranking dos países importadores, a China modificou de forma expressiva o mix de produtos comprados do Rio Grande do Sul, com aumento da relevância dos alimentícios, como soja e carnes, em detrimento dos insumos industriais para outros usos, como a celulose e o fumo não manufaturado.
"Esse é um aspecto que merece monitoramento nos próximos meses, uma vez que pode sinalizar mudanças qualitativas no comércio internacional do setor, induzidas por alterações nos padrões de consumo final ou ainda por políticas de segurança alimentar em tempos de pandemia", avalia Leusin.
O fato de a disseminação do vírus estar aparentemente controlada no país asiático contribui também, de acordo com o boletim, para evitar problemas de armazenagem e de pressões sobre os preços recebidos pelos produtos gaúchos ao longo do segundo trimestre, período de escoamento da safra.
Fonte: Datagro
Créditos da Imagem: Pixabay