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Custos pressionam preço da carne de frango
18/04/2022
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Após um 2021 de alta, os custos de produção da carne de frango não dão folga neste ano. De acordo com estudos divulgados pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), o índice de custos de produção do frango acumulou alta de 10,59% no primeiro trimestre do ano. A indústria, que já vinha trabalhando com margens apertadas, vê poucas alternativas senão repassar, em parte, o aumento para o consumidor final - deve haver reflexos, portanto, no preço da carne nos mercados do Rio Grande do Sul.
O ICPFrango subiu 1,60% no durante o mês de março, chegando aos 446,25 pontos. A alta foi causada principalmente pela influência dos gastos com nutrição (1,24%) e na compra dos pintos de um dia (0,24%), segundo a Embrapa.
No Rio Grande do Sul, há o agravante da estiagem, que reduziu a produção de milho e soja - principais componentes da ração animal. “O preço que a gente vê no mercado é o preço que o setor vem trabalhando para poder cobrir os custos de produção e se manter produzindo. (O avanço dos custos) reflete (no preço final), mas vem de formas parciais. Não vai repassar de uma vez o aumento do milho. O setor vai botar gradativamente, aos poucos, para continuar atendendo o compromisso com o consumidor brasileiro”, afirmou o presidente da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos.
Segundo o dirigente, a indústria do setor precisará encontrar um equilíbrio entre cobrir os custos para continuar ofertando frango para consumo das famílias, mas não aumentar os preços a ponto de inviabilizar a aquisição deste tipo de carne. “Temos ainda um ano difícil, a economia ainda não reagiu, a a inflação ainda está alta. O momento delicado, com os custos explodindo e o Estado tem um dos custos mais altos do Brasil, a frente de Paraná e Santa Catarina (estados onde foram feitos o estudo da Embrapa)”, relata Santos.
A cooperativa Languiru, de Teutônia, reconhece que deve haver alta de preços no frango. “O aumento desenfreado dos custos internos de produção deve exigir dos produtores um repasse. As integradoras não têm outra opção a não ser repassar ao consumidor parte deste aumento”, afirma o presidente da cooperativa, Dirceu Bayer.
Há perspectiva, também, de diminuição de oferta, visto que muitas indústrias estão reduzindo o número de frangos abatidos para tentar driblar o avanço dos insumos. “A redução da oferta do produto nos mercados é devida a uma redução de abate de um modo geral, realizado por todas as empresas e cooperativas com o intuito de reduzir o prejuízo e o consumo de milho, escasso neste momento” relata Bayer.
Na contramão, a Associação Gaúcha de Supermercados (Agas) acredita que há espaço para redução no preço do frango ao consumidor final. "Começou a baixar na semana passada, com a tendência de baixa no dólar. É um ponto muito vulnerável à situação cambial, devido a ter muita exportação. Deve ter redução principalmente nos cortes congelados. A tendência apontou para uma queda durante esta semana”, afirmou Antonio Cesa Longo, presidente da Agas.
Alta das exportações não impacta preço no mercado interno
O crescimento das exportações de carne de frango no Rio Grande do Sul não devem impactar o abastecimento do mercado interno. A alta prevista para a carne de frango está ligada à alta nos custos de produção, principalmente de grãos como milho e soja. O aumento das vendas para o mercado internacional pode, inclusive, ajudar a equilibrar as contas da indústria, que vem operando com margens apertadas.
Para o diretor de mercados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Luis Ruas, “é possível que aconteça” o aumento de preços no mercado. “Se pensar na equação macroeconômica, é até necessário. Mas, neste momento, a alta dos preços não tem a ver com as exportações, mas sim com aumento de custos”, afirmou ele.
Não é apenas a estiagem que no Sul do País que gerou avanço dos custos. O aumento global de preços das commodities também gerou efeitos no mercado interno. "O milho e o farelo de trigo tiveram de 60% a 70% de aumento nos custos. Outros insumos como diesel, plástico, papelão também sofreram aumento. Para continuar produzindo, muitos produtores terão que fazer um repasse”, analisa o diretor de mercados da ABPA.
Ruas acredita que a alta de preços pode ser equiparada ao aumento dos custos de produção, que foi de 10,59% no primeiro trimestre, segundo estudo da Embrapa. “No mínimo pode haver um aumento nessa mesma proporção, porque muitos produtores já estavam trabalhando com margem linear, alguns até com margem negativa. Se não conseguir fazer esse repasse agora, muito produtor vai ficar em uma situação complicada de continuar tendo oferta no futuro”, analisa.
A baixa oferta de carne de frango pode, inclusive, beneficiar o mercado brasileiro. “A oferta mundial de carne de frango está reduzida por uma das maiores crises de influenza aviária da história dos Estados Unidos e de parte da Europa. Ainda há a questão da guerra. Então, países importadores se voltaram para o Brasil, que é uma fonte segura, estável. Temos relações comerciais com mais de 140 países. Dos nossos 10 maiores mercados, em 9 a gente cresceu”, relata ele.
Fonte: Jornal do Comércio
Créditos da Imagem: JUSTIN SULLIVAN/GETTY IMAGES/AFP/JC