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Carnes: Firmes na exportação
04/05/2020

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Carnes: Firmes na exportação

A pandemia do coronavírus reduziu a demanda interna por produtos agroindustriais e, ao mesmo tempo, provocou alta nas exportações. Os chineses seguem puxando a compra de carnes brasileiras e se consolidando como o principal cliente do nosso país. Segundo o Núcleo de Estudos em Sistemas de Produção de Bovinos de Corte e Cadeia Produtiva (NESPro) da Ufrgs, existem poucos fornecedores para os volumes de carne bovina movimentados pelo mercado internacional, de aproximadamente 6,5 milhões de toneladas, e o Brasil fornece cerca de 20% desse total.

Outro segmento, o das carnes suínas, viu suas receitas de exportações darem um salto de 66,3% no primeiro trimestre deste ano, chegando a 451,58 milhões de dólares, segundo o Ministério da Economia, Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O Rio Grande do Sul foi o segundo maior exportador do período, com faturamento de 123 milhões de dólares, equivalente a 27,3% do total brasileiro. “Se o mercado externo continuar com o ritmo do primeiro trimestre, nós vamos superar 2019”, prevê o presidente da Associação de Criadores de Suínos do Rio Grande do Sul (Acsurs), Valdecir Luis Folador.

Também no primeiro trimestre do ano, a avicultura de corte gaúcha exportou um total de 166,1 mil toneladas de carne de frango, com crescimento de 84,8% na comparação com o mesmo período do ano passado, pelo valor de 249 milhões de dólares (avanço de 82,1%). “Este primeiro trimestre foi de recuperação das exportações avícolas do Rio Grande do Sul. Agora, precisamos ficar atentos aos próximos meses”, avalia Eduardo Santos, diretor-executivo da Associação Gaúcha de Avicultura (Asgav). O Rio Grande do Sul é o terceiro maior produtor e exportador de carne de frango e derivados do Brasil.

Em Teutônia, o presidente da Cooperativa Languiru, Dirceu Bayer, afirma que a exportação absorveu parte da produção destinada ao mercado interno, que teve uma queda brusca. “Em vista da alta cotação do dólar, essa venda externa se torna muito mais importante do que o mercado interno”, calcula o presidente. No caso das aves, o volume enviado ao exterior passou de 15% para 50% do total produzido.

O caminho dos embarques internacionais, no entanto, não está aberto para todos. Os frigoríficos que não estão habilitados à exportação não têm acesso a esse mercado e sentem mais os reflexos da retração do consumo interno, verificada desde o início da pandemia. Os preços estão caindo há mais de mês. O quilo do suíno vivo pago ao produtor independente recuou de R$ 5,58 em 16 de março para R$ 3,83 em 27 de abril. Na mesma comparação, o preço ao produtor integrado encolheu de R$ 4,31 para R$ 4,10.

Os reflexos negativos são maiores para os frigoríficos que atendem apenas a demanda doméstica. Em Sarandi, o proprietário do Frigorífico Bortoluzzi, Mauro Bortoluzzi, diz que as câmaras estão cheias, o que reduziu em 50% o volume de produção. “Tivemos uma queda relevante na compra da matéria-prima principal da empresa”, revela. O número de abates semanais, que era de 500, passou para 350.

O setor avícola também percebe alta nos estoques. “A produção rural se mantém, mas para que não sofra impactos é de extrema importância a retomada do mercado interno”, ressalta Santos, da Asgav. O avicultor Erhardt Hepp, de Três Passos, admite que o futuro gera apreensão. “Até agora não senti os impactos nem no preço e nem na produção de aves, mas todo dia me preocupo com o amanhã”, revela. “A granja sustenta duas famílias”, salienta Hepp, que é produtor integrado e consegue comportar até 20 mil frangos no seu aviário.

Nos bovinos, a retração do mercado interno repercutiu nas cotações. “O preço da arroba do boi gordo sofreu uma queda esperada pelo período do ano, no qual o pecuarista faz uma grande desova de boi gordo, antes do início da estação da seca, pressionando a oferta”, analisa o coordenador do NESPro, Júlio Barcellos.

O pecuarista e vice-presidente de fomento da Associação Brasileira de Hereford e Braford, Celso Jalotto, explica que o preço da arroba se aproximou de R$ 205 há pouco mais de um mês e agora caiu para R$ 197 (valor de quinta-feira, segundo o Cepea/Esalq/USP).

“A venda no mercado futuro não anda como se gostaria porque o pecuarista está esperando para ver se há uma retomada no preço, já que não sabe como vai ser o segundo semestre”, observa. Jalotto também ressalta que as medidas de proteção ao coronavírus prejudicaram a comercialização via remates presenciais. O pecuarista sustenta que leilões on-line não são o costume para a venda de animais para recria e engorda, como está ocorrendo neste outono, e sim para gado de elite. Afirma, ainda, que os leilões presenciais acabam gerando melhores preços para o vendedor.

Em Passo do Sobrado, o diretor comercial do Frigorífico do Sul, Jorge Fetzmer, revela que o abate caiu 30% porque vem na sequência de uma situação de estiagem, potencializada pela pandemia.

Fonte: Taís Teixeira - Correio do Povo
Créditos da Imagem: Banco de Imagens ASGAV