Notícias
Baixo preço do milho frustra expectativas
13/02/2017
voltar
Faz tão pouco tempo que provavelmente ainda nem se apagou da memória dos gaúchos a celeuma sobre os altos preços do milho. Esse cenário visto no segundo semestre de 2016, porém, já é passado. Com a virada do ano e o início da colheita da nova safra, a situação também virou: dessa vez, a discussão é sobre o baixo preço das sacas, que não para de cair. O panorama só não é pior porque uma parcela considerável dos produtores se precaveu e assinou contratos prévios, antes quase inexistentes na cultura. Segundo a Emater-RS, que acompanha os valores pagos aos produtores, na semana passada o preço médio da saca de 60 kg de milho chegou aos R$ 27,67 no Estado, queda de 3,6% em relação à semana anterior. Há seis meses, por exemplo, as sacas saíam acima de R$ 45,00 na média, com preços encontrados de até R$ 53,00. Os altos números à época atiçaram os agricultores, que reverteram a tendência de queda nos últimos anos e, nessa safra, aumentaram a área plantada de milho. O sonho pode ter virado pesadelo para muitos. Segundo o engenheiro agrônomo da Emater-RS, Alencar Paulo Rugeri, o patamar atual ainda cobre os custos e permite rendimento, na média. Entre os motivos para isso estão a alta na produtividade e na produção, que acabam reduzindo o custo de produção de cada saca. Entre as entidades ligadas aos produtores, porém, mais do que reclamações, é a defesa dos contratos de venda futura que domina os discursos. Economista-chefe da Farsul, Antônio da Luz lembra que a elevação do preço no fim de 2016 era claramente atípica, e afirma que os produtores foram avisados de que os números dificilmente se repetiriam. O motivo foi a quebra da segunda safra no Centro-Oeste que desabasteceu o País, situação impensável na safra atual, com maior produção. O impacto do valor alto, porém, teria feito com que os compradores do grão, em especial indústrias com a ração animal como destino, buscassem acordos prévios com os agricultores, algo até então pouco comum. O que hoje parece óbvio, há poucos meses não era tão fácil de fomentar. Isso porque, segundo Luz, enquanto a saca beirava os R$ 60,00, os contratos acertavam valores na faixa de R$ 35,00 a R$ 40,00. “Na época, nossa recomendação de que fizessem os contratos parecia conservadora, mas tinha de ter em vista que o contrato era para entrega agora, não no ano passado”, argumenta Luz. “Quem travou o preço, agora está rindo à toa”, acrescenta o economista. Rugeri vai na mesma linha, lembrando que os produtores tiveram opção. “É uma situação crítica, mas o produtor teve oportunidade. Serve como aprendizado”, argumenta. Não há como saber a parcela dos agricultores que se utilizaram dos acordos, já que não há qualquer pesquisa ou acompanhamento sobre o tema, mas ambos defendem ter sido uma porção significativa dos produtores. “É uma grande ferramenta, que precisa ser utilizada. Não dá para ficar sempre nessa dependência, pois a variação é muito grande”, defende Rugeri. Sobre a tendência de queda no valor da saca, a expectativa é de que os patamares já estejam próximos do piso. No fim de janeiro, o excesso de chuvas na região Sudeste teria ajudado a sustentar os preços nas últimas semanas, segundo o consultor de mercado da Scot Consultoria, Rafael Ribeiro. Com o avanço da colheita, porém, o mercado deve voltar à baixa, na visão do analista. A expectativa pela segunda safra dessa vez sem quebra também pode ajudar a derrubar mais um pouco o valor. “O grosso do que tinha para cair, já caiu”, acrescenta Luz, que afirma ser razoável esperar que aconteçam novas quedas. “Mas não tanto quanto caiu até agora”, acrescenta o economista-chefe da Farsul, lembrando que, apenas do início da colheita para cá, a saca já se desvalorizou em cerca de R$ 10,00, ritmo que não deve se repetir.
Fonte: Jornal do Comércio