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As três faces da moeda única: The good , the bad and the ugly
09/01/2023

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As três faces da moeda única: The good , the bad and the ugly

A ideia de que o Mercosul possa seguir o exemplo da UE e adotar uma moeda única volta à tona de tempos em tempos no noticiário. Trataremos dos benefícios e possíveis malefícios da adoção de uma moeda única. Para tanto, embasaremos nossa análise na teoria das Áreas Monetárias Ótimas (AMO).

Dado que as transações, dentro da área, ocorrem via a utilização de uma divisa comum, os principais benefícios referem se à simplificação das transações - visto não haver necessidade de conversão monetária - e à maior previsibilidade quanto às receitas e custos de produção (the good). Esse ganho será maior se a complementariedade dos mercados for grande. Transações comerciais intensas são um dos pontos principais para permitir um melhor aproveitamento dos benefícios gerados pela AMO.

Quanto aos malefícios, o principal é referente à perda da política monetária, que passa a ser tomada de maneira conjunta. Nesse cenário, os países da Área fixam suas taxas de câmbio à taxa do bloco. Se esses países apresentarem taxas de inflação controladas -não é o caso do Mercosul-, boa credibilidade de seus BCs e apresentarem mesmo ciclo de negócios, então choques externos irão afetar os membros de maneira similar e a política monetária comum poderá ser implementada sem prejuízos. Há problema quando um dos países do bloco mostra comportamento diferente após um choque externo (the bad).

Se um país A passa por um processo inflacionário, e esse país apresenta grande influência na política monetária comum, então poderá fazer pressão para um aumento da taxa de juros. Os outros membros terão que arcar com uma taxa de juros mais alta, embora não sofram a mesma pressão que o país A. Se, porém, o país A não apresenta influência sobre a política monetária, terá de combater a inflação por outra via que não a monetária e sofrerá as consequências sozinho. Desse modo, um ou mais países do bloco ficam à mercê da maioria dos membros caso não haja estabilidade de preços e de comportamento frente a choques exógenos.

Além da possibilidade de choques assimétricos, outro problema é quanto ao manejo conjunto da política monetária. Se membros com baixa disciplina monetária tomarem o controle do BC, então o bloco terá uma política monetária mais frouxa e membros com maior disciplina serão lesados; abrir mão dessa ferramenta, então, pode apresentar grande risco aos membros com disciplina monetária. Como ponto final, membros que se sentirem prejudicados pela política monetária comum podem se sentir inclinados a demandar compensações financeiras do bloco (and the ugly).

Embora haja certo volume de transações entre os países do Mercosul, a discrepância no ambiente macro e institucional não permite a adoção de uma moeda única. Conclui-se: os riscos com relação à perda do instrumento monetário seriam bastante prejudiciais ao Brasil, visto a maior disciplina com as contas públicas relativamente a alguns de nossos parceiros comerciais.

Fonte: FIERGS
Créditos de Imagem: FIERGS