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Alta dos grãos eleva custos de produção e frigoríficos reduzem abates em 2021
22/03/2021
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Com dificuldades para manter os níveis de produção destinados ao mercado interno, especialmente, devido a alta elevada nos preços da soja e do milho, frigoríficos do Estado vêm reduzindo os abates de aves e suínos. Com valorizações que chegaram a superar os 100% nos insumos básicos para ração, que representa até próximo de 60% dos custos de criação, diferentes plantas indústriais estão reduzindo o ritmo para equilibrar as contas.
Os reflexos virão com elevação dos preços aos consumidores e já causam interrupções em linhas de abate e demissões no setor, de acordo José Eduardo dos Santos, presidente da Organização Avícola do Rio Grande do Sul (Asgav/Sipargs). Segundo levantamento da Asgav, caso se intensifiquem as reduções de produção por parte das indústrias, de em média 15%, resultará numa diminuição de cerca de 10,3 milhões de aves a serem abatidas, o que significa que o equivalente a 21,2 milhões de Kg de aves que deixarão de estar disponíveis para o consumidor.
A retração nos abates de aves em janeiro em relação a dezembro, de acordo com a Asgav, foi de -13,12%. Em relação a janeiro do ano passado foi de quase 14% (caindo de 72,9 milhões para 63,9 milhões de cabeças). Em fevereiro, sobre janeiro, nova queda, de 4,93%; e redução de de 11,3% ante o mesmo mês do ano passado (60,2 milhões em 2021 e 67,9 milhões em 2020).
Santos pondera que simplesmente repassar todo o custo da alta do milho e da soja aos preços que vãos aos supermercados é complexo e que a indústria está no limite do que podia absorver. De acordo com executivo, há a limitação do que se pode transmitir, especialmente com a queda na renda, o desemprego e o fim do auxílio emergencial.
Mesmo com a elevação de cerca de 14% no preço da carne de frango ao consumidor entre fevereiro de 2020 e fevereiro de 2021, de acordo com levantamento do Iepe/Ufrgs, ainda há um descompasso em relação ao valor do milho e da soja no período. Nestes mesmos 12 meses o milho se valorizou 75% e a soja 93%, segundo levantamento da Emater.
“Estamos alertando desde o final do ano passado que haveria a necessidade de redução. Em novembro já se tinha perspectiva de cortes de cerca de 10%, cada empresa conforme suas necessidades. Algumas resolveram esperar, na expectativa de que o mercado melhorasse, o que não ocorreu”, diz Santos.
O executivo ressalta ainda que em dezembro foi solicitado ao Ministério da Agricultura que se tivesse um plano de contingenciamento para o setor e que se intensificaram os pedidos desde então. Uma das alternativas é poder importar milho dos Estados Unidos, de onde há limitações por ser grão transgênico, o que ainda não é autorizado no Brasil.
“Pedimos também linhas de crédito para armazenagem. A ministra Tereza Cristina sinalizou que tentaria buscar soluções junto a CTNBio e ao ministério da Ciência e Tecnologia e com o ministro Paulo Guedes formas de sermos atendidos em alguns destes pleitos, o que pode ser anunciado no final de março”, antecipa Santos.
Entre as empresas que diminuíram os abates, comenta o executivo, estão a Cooperativa Languiru e Vibra, que realizou ajustes temporários e desligamentos na unidade de Soledade. O frigorífico contava com 270 colaboradores na cidade, onde começou a investir em 2020, mas devido à retração do mercado e à atualização do mix de produtos tiveram que demitir 170. Em nota, a empresa destaca que ofertou a possibilidade de realocação aos colaboradores em outras unidades e que está implantando medidas para minimizar os impactos no quadro de funcionários da unidade.
Também em comunicado, a empresa afirma que segue investindo na cidade, inclusive com a modernização da atual estrutura, na ampliação do frigorífico e na construção de uma nova fábrica de ração, com expectativa de retomar a operação a pleno o mais breve possível.
Fonte: Jornal do Comércio
Créditos da Imagem: Banco de Imagens ASGAV