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Mercado de trabalho após um ano de pandemia
01/06/2021

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Na última quinta feira 27 05 o IBGE divulgou a PNAD Contínua referente ao primeiro trimestre de 2021 permitindo se fazer uma análise do mercado de trabalho brasileiro após um ano do início da pandemia Os dados revelam uma situação ainda muito preocupante, principalmente para a população mais vulnerável.

O número de desempregados atingiu 14 8 milhões, o maior valor desde o início da série histórica da pesquisa em 2012 e 1 95 milhão acima do mesmo período do ano passado Como consequência, a taxa de desemprego também chegou ao seu recorde histórico 14 7 da força de trabalho, 2 5 pontos percentuais acima dos primeiros três meses de 2020 Cabe destacar que esses números capturam o comportamento apenas das pessoas que tomaram iniciativa para procurar emprego Há um contingente estimado em 9 2 milhões de pessoas que ainda não voltaram a procurar uma colocação e permanecem fora da força de trabalho Portanto, o número de desempregados e a taxa de desemprego poderiam ser muito maiores.

A força de trabalho também poderia aumentar com o crescimento de seu outro componente o número de pessoas ocupadas Esse movimento, por óbvio, agiria para diminuir a taxa de desemprego A população ocupada do Brasil perdeu 6 6 milhões de pessoas em um ano, saindo de 92 2 milhões no primeiro trimestre de 2020 para 85 7 milhões no respectivo período de 2021 A perda absoluta foi praticamente a mesma em ocupações formais e informais, com retração de 3 3 milhões de postos de trabalho cada No entanto, a perda relativa foi menor para o mercado formal 6 2 frente ao informal 8 4 este mais ligado ao setor de serviços e que depende da circulação de pessoas.

No mercado informal, quase todas as categorias de emprego apresentaram perdas durante a pandemia, com destaque para os trabalhadores do setor privado sem carteira assinada em termos absolutos 1 3 milhão) e para os ocupados no setor público sem carteira assinada em termos relativos 18 3 Quanto ao formal, a principal perda de trabalhadores em números absolutos ocorreu no setor privado com carteira assinada 3 5 milhões) e em termos relativos os mais afetados foram os trabalhadores domésticos com carteira 18 0 Em sentido contrário, houve geração de vagas na categoria de militares e servidores públicos estatutários 619 mil ou 7 6 muito por conta das contratações em serviços de saúde e pela estabilidade dos servidores e aumento no número de trabalhadores por conta própria com CNPJ 425 mil ou 7 8 nessa categoria se encaixam, por exemplo, os Micro Empreendedores Individuais MEIs e é comum em tempos de crise que haja aumento no chamado empreendedorismo por necessidade como alternativa de ocupação e renda.

A enorme perda de empregos no setor privado com carteira assinada chama a atenção, ainda mais pelo fato de que os dados do Novo CAGED, do Ministério da Economia, para período semelhante abr 20 a mar/ 21 revelam a geração de 850 mil postos de trabalho e o saldo segue subindo no acumulado em 12 meses até abril/ 21 divulgado na semana passada, o saldo está positivo em 1 9 milhão de vagas.

Em primeiro lugar, é preciso deixar claro que os dados não são diretamente comparáveis por uma série de motivos, mas historicamente eles apresentam comportamentos semelhantes e nunca houve descolamento tão grande entre os resultados quanto o atual Adicionalmente, as duas pesquisas passaram por mudanças de metodologia durante a pandemia Buscando identificar os motivos da discrepância, um estudo do IPEA encontrou evidências de que a forma de coleta da PNAD, que passou a ser por telefone, pode estar subestimando o número de trabalhadores com carteira assinada.

Com relação ao Novo CAGED, houve mudança na forma de coleta dos dados (passou a ser pelo E Social) e sua abrangência aumentou, o que pode comprometer a comparação com anos anteriores No entanto, é preciso considerar que os resultados muito positivos também estão ligados à estabilidade provisória dos trabalhadores que receberam o Benefício Emergencial BEm em 2020 Segundo o governo, em março de 2021 3 1 milhões de pessoas possuíam estabilidade referente ao programa, reduzindo se gradativamente até chegar a 1,4 milhão em agosto.

Com a nova rodada do programa iniciada no dia 27 de abril (MP 1 045 que já teve 1 9 milhão de acordos de redução de jornada e suspensão de contratos em menos de 1 mês de vigência, a tendência é de que o saldo de geração de empregos do Novo CAGED se mantenha muito positivo nos próximos meses Adicionalmente, o avanço da vacinação deve permitir uma abertura cada vez maior da economia, beneficiando principalmente o setor de serviços, que concentra a maior parcela dos empregos na economia.

As perspectivas são positivas, mas os desafios seguem imensos O número de ocupados segue muito distante em relação ao pré pandemia e a reinserção é uma tarefa árdua em diversos casos Sobre esse assunto, em artigo recente ao Valor Econômico o economista Naercio Menezes Filho escreveu que os trabalhadores mais jovens e menos qualificados são os que estão sofrendo mais os efeitos da pandemia Muitas pessoas seguem desempregadas desde a crise de 2014 2016 acumulando uma defasagem técnica e tecnológica difícil de ser superada Outro grande desafio é que, por conta das dificuldades impostas pela crise, da competitividade e do alto custo de contratação, as empresas estão investindo em tecnologia e buscando produzir mais com menos pessoas.

Fonte: FIERGS