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Emprego avança no RS, mas acompanhado de queda na renda média
08/12/2021
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No terceiro trimestre, rendimento médio real mensal de todos os trabalhos diminuiu em R$ 257 no Estado ante o mesmo período do ano passado
O recuo do desemprego no Rio Grande do Sul vem acompanhado de queda na renda dos trabalhadores. Enquanto a taxa de desocupação caiu cerca de dois pontos percentuais, o rendimento médio dos gaúchos ocupados sofreu tombo de 8,4% no terceiro trimestre de 2021, ante o mesmo período do ano passado. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) trimestral, divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Avanço do emprego baseado no trabalho informal e em vagas de menor qualidade ajudam a explicar esse cenário, segundo especialistas.
O total de trabalhadores gaúchos ocupados saltou de 5,1 milhões, no terceiro trimestre de 2020, para 5,5 milhões neste ano. Já o contingente de desempregados diminuiu de 601 mil para 512 mil (veja mais abaixo).
Na esteira desse movimento, o rendimento médio real mensal de todos os trabalhos no Estado ficou em R$ 2.804 no período de julho a setembro. Esse montante representa R$ 257 a menos em relação ao mesmo recorte de tempo em 2020.
O coordenador da Pnad Contínua no Estado, Walter Rodrigues, afirma que a queda da renda média no Estado é um fenômeno que ocorre, principalmente, diante do avanço do trabalho informal. No terceiro trimestre, a taxa de informalidade chegou a 32,2% da população ocupada, com 1,8 milhão de trabalhadores informais. No mesmo período de 2020, essa taxa ficou em 30,2%.
— O trabalho informal tem um rendimento menor do que o trabalho formal. Tradicionalmente ele vai ter um salário menor. Então, a nossa massa de rendimento se manteve praticamente estável, mas é dividida por um número maior de trabalhadores e o rendimento médio cai — explica Rodrigues
O professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal do RS (UFRGS) Maurício Weiss afirma que o avanço da ocupação no mercado de trabalho também está concentrado em postos de menor qualidade, principalmente no setor de serviços. Alguns segmentos desse setor, que lidera a retomada das contratações no país atualmente, têm salários menores, segundo o especialista. Isso somado à informalidade e às flexibilizações nas dinâmicas trabalhistas também contribui para a queda no rendimento médio, segundo Weiss:
— Com a reforma trabalhista, o que houve foi a permissão do trabalho intermitente. Então, boa parte desse trabalho está se dando pela informalidade ou pelo emprego formal, mas intermitente. Ou seja, aquele trabalhador que ganha menos horas do que gostaria.
O professor da UFRGS afirma que esse cenário de crescimento do emprego com queda do rendimento médio dificulta a criação de novos postos no futuro porque desestimula a demanda.
A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) e especialista em mercado de trabalho Lúcia Garcia afirma que, além do salto da informalidade, o setor formal também enfrenta dificuldade para pagar salários maiores. A contratação com carteira assinada encontra um mercado de trabalho ruim em um cenário de inflação persistente, que sempre foi “inimiga da mesa de negociação”, conforme Lúcia. A economista destaca que esse ambiente cria desafios para a retomada econômica no país porque freia o consumo interno.
— Nosso mercado de consumo interno fica prejudicado. A população perde poder de compra. Isso gera um efeito em cadeia que acaba atingindo, principalmente, os serviços prestados às pessoas e a domicílios. Isso fica extremamente prejudicado. Como esse segmento é altamente incorporador de força de trabalho, começamos a ver que a própria taxa de desemprego declina, mas vai perdendo ritmo nessa redução — salienta Lúcia.
O movimento de queda de renda na esteira da redução do desemprego no Estado acompanha o cenário nacional. A taxa de desocupação recuou para 12,6% no terceiro trimestre deste ano — queda de 2,2 pontos percentuais na comparação com 2020. O rendimento real habitual foi de R$ 2.459, retração de 11% ante o terceiro trimestre do ano passado, quando o valor estava em R$2.766.
Tendência para o futuro
Tradicionalmente, o mercado de trabalho fica mais aquecido no quarto trimestre diante de eventos e festas de final de ano. Com a reabertura maior das atividades, especialistas projetam que o emprego deverá seguir avançando no país na reta final de 2021. Em relação ao movimento de alta nos postos informais, o coordenador da Pnad Contínua no Estado afirma que é difícil projetar se isso vai continuar. No entanto, o pesquisador destaca que a tendência é de persistência desse cenário diante de uma tentativa de retomada da economia e de fontes de renda:
— É uma tendência característica de quando o país vem de uma situação mais crítica para uma situação menos crítica. O primeiro emprego que se recupera é o informal. Assim, como em uma situação pior, o primeiro que perde mais é o informal — destaca Walter Rodrigues.
O coordenador afirma que alguns empregadores também tendem a optar por contratar de maneira informal diante das incertezas em relação ao futuro da economia no país.
O professor Maurício Weiss, da UFRGS, também projeta crescimento do emprego neste final de ano em um movimento sazonal. Para 2022, o economista estima um ambiente complicado para o mercado de trabalho no país.
— A tendência é de o setor de emprego continuar com mercado fraco, com baixa recuperação. O emprego ainda vai ser muito baseado nessa dinâmica de informalidade. Como a gente não tem uma expectativa de crescimento no médio e no longo prazo, a tendência é de que o emprego também seja baseado, principalmente, no trabalho intermitente — afirma Weiss.
A economista do Dieese Lúcia Garcia afirma que, além de seguir concentrada em empregos de baixa qualidade, a geração de vagas no país também será marcada por postos com baixa utilização da força de trabalho. Esse movimento tem impacto na qualidade de vida e socioeconômica no país, segundo a economista.
Fonte: Jornal Zero Hora