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Depois de um ano de crescimento recorde, a estiagem impacta PIB do RS
25/03/2022
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Após crescer 10,4% em 2021, estimamos que a queda no PIB do RS pode chegar a 4,0% por conta dos efeitos da estiagem.
Na semana passada, foi divulgado o resultado do PIB do Rio Grande do Sul para 2021, o qual mostrou crescimento de 10,4%, totalizando R$ 582,968 bilhões. A taxa foi a maior desde o início da série histórica em 2002 e bastante superior à registrada no Brasil (+4,6%). O avanço seu deu sobre uma baixa base de comparação de 2020, quando a economia gaúcha caiu 6,8% devido à combinação perversa de estiagem e pandemia. Desse modo, o PIB per capita alcançou R$ 50.840 no ano passado, uma alta real de 10%, situando-se 25% acima do patamar nacional de R$ 40.688. Nesse texto, além dos resultados publicados para 2021, também comentaremos sobre a atualização das projeções 2022, que foram influenciadas pelos impactos da estiagem. Resultados setoriais de 2021 frente a 2020:
Na Agropecuária (+67,5%), após perdas expressivas em 2020, a recuperação foi puxada pela alta na produção de soja (+80,8%), trigo (+68,5%), fumo (+19,4%), arroz (+6,8%) e milho (+4,3%).
Na Indústria (+9,7%), todas as atividades registraram desempenho positivo no ano passado, desde a Energia e saneamento (+1,6%), passando pela Indústria extrativa mineral (+4,8%), Construção (+7,4%) e a Indústria de Transformação (+11,8%), a de maior representatividade na economia do Estado. Por segmento da Indústria de Transformação, 12 das 14 atividades industriais do Estado tiveram crescimento nas taxas, com destaque para a produção de Máquinas e equipamentos (+35,5%), Produtos de metal (+19,0%), Couro e calçados (+16,5%) e Metalurgia (+16,4%). Veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,4%) e Tabaco (-4,4%) foram os únicos com desempenho negativo em 2021.
Nos Serviços (+4,1%), das sete atividades analisadas, seis apresentaram variação positiva em 2021. O Comércio (+6,6%) colaborou para a alta, também puxada pelo desempenho dos segmentos de Outros serviços (+7,5%, que engloba serviços prestados às famílias / serviços presenciais), Serviços de informação (+7,1%) e Transportes, armazenagem e correio (+7,0%). A única atividade com queda foi Intermediação financeira e seguros (-2,3%).
Forte crescimento no 4º trimestre: No quarto trimestre de 2021, o PIB gaúcho cresceu 3,3% na comparação com o terceiro trimestre, na série com ajuste sazonal, recuperando boa parte da forte queda de 4,0% no trimestre anterior. Os três grandes setores apresentaram crescimento: Agropecuária (+12,9%) – com o crescimento puxado pela produção de trigo –, Indústria (+2,1%) e Serviços (+0,3%). O avanço de 2,9% na Indústria de Transformação também merece destaque, dada a taxa bastante superior à nacional (-2,5%).
Com isso, em nível, o PIB do quarto trimestre de 2021 encontra-se muito próximo aos maiores patamares de atividade já registrados no RS, atingidos nos segundos trimestres de 2013 e de 2021, ambos marcando a recuperação após períodos de severa estiagem.
Por fim, na comparação com o quarto trimestre de 2020, o PIB gaúcho cresceu 5,0%, com alta em todos os setores: Agropecuária (+42,1%), Indústria (+4,0%) e Serviços (+4,2%). No setor industrial, destaques para os avanços de 9,2% na Construção (no BR a alta foi até maior, de 12,2%) e de 3,3% na Transformação (muito acima da taxa nacional, de -6,9%).
Análise e perspectivas: Após um 2020 marcado pela combinação de severa estiagem e os maiores impactos da pandemia na atividade econômica, a baixa base de comparação já apontava para um crescimento expressivo do PIB em 2021.
Além disso, cabe mencionar que a Indústria teve seus melhores momentos no início e no final do ano, e os Serviços se beneficiaram pelo avanço da vacinação e consequente arrefecimento da pandemia.
Para 2022, o cenário se inverte drasticamente. A forte estiagem que voltou a atingir o RS nos meses finais de 2021 e início de 2022 deve derrubar a produção agrícola. As perdas estimadas pela Emater/RS são de 41,1% na produção de grãos em relação à safra anterior. Considerando a participação da Agropecuária no PIB gaúcho, a contribuição da quebra de safra para o crescimento do PIB do RS já atinge -4,0 pontos percentuais.
Portanto, além do impacto direto, considerando o efeito de encadeamento que o setor primário possui com os demais setores da economia do RS, bem como a alta base de comparação herdada de 2021, estimamos que a variação do PIB gaúcho será negativa em 2022.
Tendo com base os dados da produtividade agrícola, em que é relatado um decréscimo de 53% na produtividade do milho, 5% na do Arroz, e perdas que chegam a 80% para a soja em algumas regiões, em que pese apenas 6% da produção já havia sido colhida até a data do levantamento. Diante das informações disponíveis temos a estimativa de uma queda de cerca de 40% no PIB da Agropecuária no ano.
Os demais setores também sofreram os impactos da estiagem de forma indireta. A estimativa que fizemos no final de novembro para o setor de Serviços apontava um crescimento de 1,3%, essa foi revisada para 0,5%. No caso da Indústria, o crescimento também foi revisado para baixo, saindo de 0,6% para -1,4%. Assim, espera-se uma queda de cerca de 4,0% no PIB gaúcho para 2022.
Fonte: FIERGS