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Avicultura: Futuro promissor - Correio do Povo 01/04/2018
02/04/2018

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Avicultura: Futuro promissor - Correio do Povo 01/04/2018

A carne de frango deve desbancar a carne de porco como a mais consumida do planeta até 2025, prevê a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em relatório feito em conjunto com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Esta perspectiva anima a cadeia da avicultura no Brasil, maior exportador mundial de carne de frango, e também no Rio Grande do Sul, terceiro Estado do país em volume de abates de aves. Especialistas acreditam que o Brasil, grande player neste mercado, está preparado para se beneficiar deste futuro promissor.
Em 2016, a produção global de carne de frango foi de 88,7 milhões de toneladas. Deste total, o Brasil, segundo maior produtor, atrás somente dos Estados Unidos, respondeu por 12,9 milhões de toneladas, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Naquele mesmo ano, o mundo produziu 109,8 milhões de toneladas de carne suína, sendo 3,7 milhões no Brasil. Mesmo que a carne suína tenha uma vantagem de mais de 20 milhões de toneladas sobre a de frango, há fatores que indicam uma troca de posição entre as duas.
De acordo com relatório da FAO, que faz projeções para a década de 2016- 2025, a oferta de carnes no mundo deve se ampliar 16% até 2025, sobretudo em função do crescimento populacional, do aumento de renda dos consumidores e do avanço da demanda nos países em desenvolvimento. A carne de frango, segundo o estudo, será “o principal motor do crescimento”, tendo em vista o seu curto ciclo de produção, que permite resposta rápida aos sinais do mercado. O relatório prevê ainda que a oferta da carne de aves se expandirá, nos próximos anos, sobretudo em países que produzem excedentes de grãos, como é o caso do Brasil, México, Rússia, Ucrânia, Estados Unidos e União Europeia. Enquanto isso, as projeções da organização internacional indicam que a produção global de carne bovina não crescerá no mesmo ritmo e o volume de carne suína irá “desacelerar” nos próximos anos. O estudo explica que a China, que produz praticamente metade de toda a carne suína do mundo, tem a ampliação de seu plantel “retardada pelo aumento das regulamentações ambientais”. O relatório aponta ainda que o consumo da carne de frango aumenta independentemente da região e do nível de renda, inclusive no chamado “mundo desenvolvido”. Os campeões em consumo total são os Estados Unidos, a China e a União Europeia. O Brasil aparece na quarta posição. Estatística da Embrapa Suínos e Aves, de Concórdia (SC), mostra que a carne de frango é a preferida no prato dos brasileiros. Em 2016, o consumo per capita foi de 41,1 quilos. Em seguida, aparece a carne bovina, com 32,3 quilos por habitante e, em terceiro lugar, a suína, com 14,4 quilos por habitante. “A carne de frango tem preço acessível, não enfrenta barreiras religiosas, tem imagem de saudável e é produzida com rapidez”, ressalta o diretor de Relações Institucionais da ABPA, Ariel Antônio Mendes. O crescimento da produtividade na avicultura brasileira é considerado gigantesco. Na década de 70, por exemplo, o frango apresentava peso para abate somente com 56 dias, segundo publicação da União Brasileira de Avicultura (Ubabef). Nos dias de hoje, um frango fica pronto para o abate em 42 dias. Um estudo da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), divulgado em fevereiro deste ano, mostrou um salto na produção de aves no Brasil nas últimas quatro décadas. A produção de frango avançou 3.446%, passando de 373 mil toneladas em 1975 para 13,2 milhões de toneladas em 2016. Na mesma comparação, o crescimento da produção de grãos foi de 360,6%, o de pecuária de 311,1% e o de suínos de 640%.

NOVO DESAFIO É AGREGAR VALOR

Alguns fatores explicam a disparada na produção e no incremento contínuo da produtividade na criação de frangos. O diretor executivo da Associação Gaú- cha de Avicultura (Asgav), José Eduardo dos Santos, diz que o setor tem adotado tecnologias inovadoras no processo produtivo, o que garante uma eficiência muito maior que a que se tinha no passado. Para ele, os investimentos em automação de processos na criação das aves, na linha de abate e na transformação da carne in natura em produtos processados ajudam a explicar a evolução obtida nas últimas décadas. Para o diretor de Relações Institucionais da ABPA, o mix que o Brasil produz para abastecer o mercado mundial é o maior diferencial entre os que manterão o país como grande player. Ele explica que o Brasil envia o frango pequeno inteiro para o Oriente Médio; o peito desossado para a Europa; a coxa e sobrecoxa para o Japão e as patas e asas para a China. Enquanto isso, os Estados Unidos exportam basicamente coxa e sobrecoxa. Mais otimista que a FAO, Mendes prevê que bastarão “dois, três anos, para que o consumo mundial de carne de aves supere a carne suína”. O vice-presidente e diretor de Mercados da ABPA, Ricardo Santin, acredita que, no futuro, o frango não será apenas uma commodity, mas um produto com mais valor agregado. “As empresas vão ter que criar novos cortes, novos produtos processados, novas embalagens e mercados maduros, como Japão, Europa e mesmo a China vão absorver”, prevê. Diante do apetite mundial, Santin alerta que o Brasil precisa manter o foco em qualidade e sanidade. “Entre os grandes produtores, somos os únicos que nunca registraram casos de influenza aviária”, pontua.
Fatores de evolução
O frango de corte e os galpões de hoje lembram bem pouco os animais e as instalações do passado. Os criadores de agora produzem mais, em menos tempo, em espaços modernos e com uma conversão alimentar cada ano mais eficiente. Desde 1990, Kurt Magedanz, morador de Westfália, no Vale do Taquari, observa esta evolução. Incentivado pelo cooperativismo, há 28 anos Magedanz instalou seu primeiro galpão para alojamento de frangos. Ele lembra que, na época, as instalações recebiam 2,5 mil pintos por lote e eram necessários 56 dias para que os animais chegassem ao peso exigido pela agroindústria. Hoje, a propriedade conta com três aviários, com capacidade para alojar até 60 mil cabeças, que ficam prontas para o abate em 42 dias. Nestas quase três décadas, diversas transformações chamam a atenção do criador. “Antigamente, era tudo manual. Hoje é tudo automatizado, climatizado, as instalações melhoraram muito”, conta o avicultor que, com o passar dos anos, modernizou as estruturas para melhorar o bem-estar animal e acompanhar o nível de exigência do consumidor. “Quem não se moderniza, cai fora do mercado”, constata. Segundo Magedanz, sem a automação não haveria mão de obra suficiente para dar conta do aumento da produção. Mesmo a propriedade tendo passado de um para três galpões, ele e a esposa Elaine continuam atendendo sozinhos a demanda de trabalho. Magedanz avalia que, com o tempo, as mudanças também foram visíveis na genética dos animais e na nutrição. “Hoje em dia, a alimentação dos frangos é muito mais balanceada que a de um humano”, compara. E ele tem razão. O pesquisador em Avicultura da Embrapa Suínos e Aves, Gerson Scheuermann, diz que, além do alimento ser melhor preparado atualmente, recebe aditivos, especialmente enzimas, que propiciam um melhor aproveitamento no organismo dos animais. A Embrapa faz pesquisa para otimizar o uso destas enzimas. “Hoje, alimentamos o frango melhor do que a nós mesmos”, confirma. O morador de Westfália é integrado à Cooperativa Languiru. O pesquisador da Embrapa acredita que o sistema integrado de produção, que começou no Brasil nos anos 1960, foi um dos fatores mais importantes para qualificar o produto nacional. “Sem atender o item da qualidade não é possível competir”, enfatiza Scheuermann. No sistema de integração, a agroindústria detém o controle da produção de pintinhos e da ração fornecida às aves no campo. O coordenador do setor de aves da Languiru, Sinécio Wilsmann, diz que a cooperativa sempre foi indutora de melhorias na avicultura da região, para que haja “sustentabilidade em todos os elos da cadeia”. Wilsmann considera que o Brasil está cada vez mais preparado para crescer, proteger seu plantel de enfermidades e atender mercados exigentes. “Um conjunto de fatores nos fez chegar até aqui”, diz. Ele exemplifica que, ao longo dos anos, as empresas e os produtores começaram a se preocupar cada vez mais com as instalações dos galpões. Houve melhor controle de temperatura nos aviários para dar mais conforto térmico às aves e surgiram novos equipamentos para melhorar a ambiência, a qualidade do ar e a alimentação dos animais. Wilsmann observa ainda que foi estabelecida uma vigilância permanente para evitar enfermidades nas aves, o que acabou aprimorando o controle sanitário, ao ponto de hoje o Brasil vender a imagem como o único, entre os maiores produtores, a nunca ter tido casos de Influenza aviária. Atualmente, a Languiru aloja 160 mil pintos por dia e tem 255 produtores integrados de frango de corte. De todo o volume que abate, 35% destina-se à exportação.

MELHORAMENTO DETERMINANTE PARA AUMENTAR PRODUTIVIDADE

Outro ponto determinante para o aumento da produtividade na avicultura brasileira é o melhoramento genético. Os frangos de corte de hoje são muito diferentes dos que eram criados no século passado e as pesquisas indicam que, a cada ano, produzem mais carne por metro quadrado. Os pintos que Kurt Magedanz acolhe em seus galpões hoje são frutos de uma seleção genética que leva em conta mais de 50 itens, explica Cassiano Marcos Bevilaqua, gerente de Marketing para a América do Sul da Cobb-Vantress Brasil, empresa líder mundial no fornecimento de aves reprodutoras para frangos de corte. Segundo Bevilaqua, no laboratório da Cobb, nos Estados Unidos, mais de 30 profissionais trabalham em constantes pesquisas para melhorar a conversão alimentar das aves, ou seja, a quantidade de ração necessária para produzir um quilo de carne. De acordo com dados da Cobb, nos anos 50 eram necessários 3,5 quilos de ração para a produção de um quilo de carne. Na década de 90, a quantidade de ração caiu para 2,2 quilos e, atualmente, para apenas 1,65 quilo. Ao longo dos anos também se chegou a uma ave com mais carne de peito, a parte mais valorizada. Nos anos 50, a carne de peito correspondia a apenas 11,5% do total de carne de um animal. Nos anos 90, o percentual passou para 15% e hoje chegou a 27%. “A população mundial está crescendo e a demanda por alimento vai ser muito maior no futuro, então temos que oferecer uma proteína de baixo custo acessível a todos”, acrescenta Bevilaqua.

MANUTENÇÃO DA COMPETITIVIDADE DEPENDE DA SOLUÇÃO DE GARGALOS

Para se manter competitivo no mercado mundial de carne de aves, o Brasil terá que solucionar ou, pelo menos, minimizar alguns problemas relacionados à energia, à logística, à alta tributação e à disponibilidade de grãos. Embora a região Sul seja a grande produtora de aves e suínos, a maior parte do cultivo do milho concentra-se no Centro-Oeste. Como o grão é o componente que mais pesa no custo de produção, o abastecimento da região Sul torna-se um desafio para o setor.
Outro item apontado como preocupação é a energia, já que o preço das fontes de energia elétrica, de combustíveis fósseis e ou das energias alternativas (eólica e fotovoltaica) também tem encarecido os custos de produção. O diretor executivo da Asgav, José Eduardo dos Santos, acrescenta que a “carga tributária elevada gera entraves” tanto na comercialização dos produtos avícolas quanto no transporte de grãos. “Os custos de produção diminuem as margens do produtor e da indústria”, destaca.

Fonte: Correio do Povo
Créditos da Imagem: Leandro Augusto Hamester / Divulgação / CP